Dono de Cachorro ou Tutor de Cachorro
Quem é você nessa história?
Dono de cachorro ou Tutor de cachorro… Será que isso é só mais uma polêmica deste mundo politicamente correto ou tem mais por trás disso?
Diferença entre os termos “Dono de Cachorro” e “Tutor de Cachorro”:
Com certeza você já deve ter percebido que, no veterinário, no petshop, na internet… em todos os lugares as pessoas falam mais de tutor de cachorro, ao invés de dono de cachorro.
Mas porque isso acontece?
Sim… os tempos mudaram. E com isso, algo que antigamente era visto como normal, hoje em dia já é colocado como algo diferente, a partir de uma reflexão maior do tema.
Na verdade, é muito provável que olhando as duas palavras rapidamente, você nem veja nenhuma diferença; mas quando você presta atenção no significado de cada uma delas, você percebe que elas dizem muito sobre como você trata o seu pet.
E para entender esta questão, é preciso pensar que dono é quem tem posse de algo e tutor é quem tutela, ou seja, auxilia um outro ser a crescer e se manter, por meio de proteção, amparo, cuidado…
Com isto eu acredito que você já deve ter percebido a grande diferença! O dono é dono de uma coisa (um objeto sem vida, sem emoções, sem capacidade de escolha), como uma casa, um carro, um caderno… Mas não podemos ser donos de seres vivos!
E com os animais é assim: não podemos ser donos, precisamos (e na verdade isso não é uma obrigação, mas algo que acontece ao longo dos dias) criar uma relação que envolve amor, carinho, atenção e cuidado.
Como surgiu a diferença entre os termos “Dono de Cachorro” e “Tutor de Cachorro”?
Agora que você entendeu o que dono e tutor significam, deve estar se perguntando: “Mas porque que alguém precisou começar a estabelecer esta mudança de termos?”
É simples… todos somos seres humanos e temos pensamentos e atitudes diferentes de outras pessoas.
Eu tenho certeza que a partir do momento que você tirou alguns minutos do seu dia para ler um texto com este tema; você tem carinho pelo seu cachorro.
Talvez você não saiba tudo o que precisa fazer… talvez você cometa alguns erros nesse processo… mas o principal você já está fazendo que é procurar informações e entender esse universo canino.
Aliás, o Mundo de Cachorro surgiu a partir disso… se você ainda não conhece a nossa história, então é só Clicar Aqui para descobrir!
Mas vamos voltar a nossa pergunta original:
Talvez você pense que isso deve ser apenas mais uma polêmica de um mundo politicamente correto. Mas na verdade, é natural passar o tempo e as pessoas começarem a prestar mais atenção em suas próprias atitudes e nas atitudes dos outros e isso começar a gerar reflexões sobre algo.
E assim foi surgindo essa mudança de dono de cachorro para tutor de cachorro. Pensando-se nos termos que existem e em como eles podem definir melhor a relação entre o ser humano e o cachorro.
E essa reflexão também passou pelas seguintes perguntas: “qual a função do cachorro em nossas vidas?” e também “qual é a função da gente na vida dos cachorros?”. Pois isso também mudou ao longo dos séculos…
Mas eu comprei o meu cachorro, então sou dono dele!
Atenção: este é um pensamento que deve ser visto com cuidado!
Temos duas formas de ter um cachorro em nossas vidas; por meio da adoção e por meio da compra. E isto é uma escolha inteiramente pessoal. Mas mesmo quando compramos um cachorro, devemos ter cuidado com o que acreditamos ser um “proprietário de cachorro”.
Pois algumas pessoas podem dizer que o cachorro é delas e apenas elas podem decidir o que fazer com o cachorro. E isso é um problema porque pode justificar tanto atitudes corretas, como também maus tratos.
E esta é mais uma questão que remete ao tema “dono X tutor”.
Quando somos donos de um objeto, por exemplo, podemos fazer o que quisermos com ele. Mas a partir do momento que somos tutores de um ser, podemos perder a guarda e até mesmo sofrer com multas e penas legais de proteção aos animais, caso a pessoa opte por ter uma ação que irá prejudicar o animal.
Maus tratos aos animais: o resultado quando se age mais como “Dono de Cachorro”, ao invés de agir como “Tutor de Cachorro”
Com certeza você já deve ter ouvido pelo menos uma notícia sobre maus tratos aos animais. Talvez, infelizmente, você já deve ter ouvido vários casos acontecendo no Brasil e em outros países. Mas o que exatamente é considerado maus tratos aos animais?
- Abandonar
- Ferir, mutilar ou envenenar
- Manter preso permanentemente em correntes
- Manter em locais pequenos e sem higiene
- Não abrigar da chuva, do sol e do frio
- Deixar sem ventilação ou luz solar
- Não dar comida e água diariamente
- Negar assistência veterinária ao animal doente ou ferido
- Obrigar a trabalho excessivo ou superior a sua força
- Utilizar animais em shows que possam lhe causar pânico ou estresse
- Capturar animais silvestres
- Promover violências como rinhas, farra-do-boi, entre outros
Todas estas situações causam sofrimento desnecessário ao animal. Aliás, inclusive, o fato de realizar experiências cruéis ou dolorosas em um animal vivo, mesmo que isso seja para fins didáticos e/ou científicos, quando existem recursos alternativos, também é considerado como algo que pode sofrer as penas legais vigentes.
Então, sempre que você souber de qualquer uma desta ações de maus tratos, denuncie!
Talvez você possa até ter receio de denunciar e ter que levar adiante (sozinho) um processo legal de denúncia na justiça. Mas, na verdade, você NÃO será o autor do processo judicial e sim o Estado. Então ajude a salvar os animais do sofrimento.
Mas atenção: no momento da denúncia, tenha em mãos todas as informações e comprovações (fotos e/ou vídeos) sobre o fato . Isto vai ajudar no bom andamento do processo.
Veja como você pode denunciar situações de maus tratos aqui no Brasil e conheça também sites que ajudam neste processo:
Ministério Público Federal
Você pode fazer a denúncia diretamente para o Ministério Público Federal. Isto pode ser feito pelo site do MP ou ainda pelas ouvidorias dos Ministérios Públicos Estaduais. O Ministério Público tem autoridade para propor ação contra os que desrespeitam a Lei de Crimes Ambientais.
Federação Brasileira dos Animais
No site da Federação há uma aba específica para orientar as pessoas a fazerem a denúncia. Clique Aqui para acessar.
Associação Humanitária de Proteção e Bem-Estar Animal
Esta associação oferece toda a orientação necessária para que você mesmo possa fazer a sua parte neste processo. Clique Aqui e Veja Como.
Change.org
Existem vários abaixo-assinados que já foram criados no site Change.org. Isto ajuda a dar visibilidade e a exigir que a justiça puna quem maltrata animais; e também exige que o governo adote medidas para prevenir que esse tipo de ato continue a acontecer. Veja e assine as petições contra maus tratos à animais Clicando Aqui.
Legislações no Brasil…
Como já foi visto, caso alguém cometa maus tratos aos animais, poderá sofrer processos, multas e penas previstas em lei. Mas quais leis são essas?
A denúncia de maus tratos é garantida pelo Art. 32, da Lei Federal n° 9.605, de 12/02/1998 (Lei de Crimes Ambientais) e também pela Constituição Federal Brasileira, de 05 de outubro de 1988. Veja a redação delas:
Lei de Crimes Ambientais
“(…) Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos:
Pena – detenção, de três meses a um ano, e multa.
§ 1º. Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 2º. “A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal. (…)”
Constituição Federal Brasileira
“(…) Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII – preservar as florestas, a fauna e a flora; (…)
(…) Art. 225. Todos têm o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para os presentes e futuras gerações.
§ 1.º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao poder público: (…)
(…) VII – “proteger o Meio Ambiente adotando iniciativas como: proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoque a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade. (…)”
E ainda no campo das leis; tivemos a aprovação do PLC 27/2018 que estabelece o reconhecimento de que os animais são seres sencientes, ou seja, dotados de natureza biológica e emocional e passíveis de sofrimento.
Este texto também acrescenta à Lei dos Crimes Ambientais (Lei 9.605, de 1998) que os animais não sejam mais considerados bens móveis para fins do Código Civil (Lei 10.406, de 2002). Assim, com estas mudanças, os animais ganham mais uma defesa jurídica em caso de maus tratos, pois não serão mais considerados coisas.
Preciso mudar o meu jeito de falar? E só me chamar de “Tutor de Cachorro”?
Ok… Começamos com a questão “dono de cachorro X tutor de cachorro” e chegamos até questões de maus tratos e leis que existem em nosso país… e agora fica a questão: “como eu devo me chamar?”
Para isso eu já tenho uma resposta na ponta da língua: “não me preocupo com palavras, mas sim com atitudes!”.
No fim do dia, o que realmente importa é como você age com o seu cachorro; como você o vê e como o seu cachorro lhe vê.
Seu cachorro não vai conseguir diferenciar quando você fala dono ou tutor… Porém, é importante que você espalhe essas informações para a maior quantidade possível de pessoas, pois isto pode ajudar a mudar os comportamentos.
Mas de um modo geral, aqui no Mundo de Cachorro, vou tentar sempre escrever “tutor de cachorro” ao invés de “dono de cachorro”, pois mesmo que eu acredite que atitudes valem mais que palavras; eu acho que a mudança do termo ajuda a gerar curiosidade para estas questões.
Afinal, você chegou até aqui porque ficou olhando esse termo “tutor de cachorro” em todo lugar e ficou curioso com o fato de não falarem mais “dono de cachorro”, não foi isso o que aconteceu?
Espero que tenha gostado do texto e se chegou até aqui compartilhe este post com outras pessoas!
Aproveite também para deixar o seu comentário sobre como você trata o seu cachorro…
Respostas de 10
Sendo assim, um criador de gado, ou de peixes, ou de porcos, ou de aves, todos estes devem, também,ser tutores de seus animais?
Olá Celso,
Quando eu escrevi esse artigo estava bem focada em cachorros… Mas eu achei a sua pergunta interessante e me fez reler o texto e pensar sobre esta questão mais ampla.
Entendi que você perguntou não no sentido de animais domésticos, mas sim de animais que são criados, principalmente, para consumo humano. E eu repito o que falei no final do texto: “não me preocupo com palavras, mas sim com atitudes”. Então, pra mim, mesmo os animais que são criados para abate deveriam sim ser criados com o pensamento de que estamos tutelando esses animais até o momento de sua morte.
Acredito que isso é o mínimo que deveríamos fazer já que a vida deles vai alimentar a nossa. Acredito que qualquer animal que esteja sob a responsabilidade de um ser humano deve ser acompanhado com proteção, cuidado e amparo e não deve ser submetido a nenhum tipo de mal trato.
(Faço um adendo que, pela lei 9.605/1998, o emprego de métodos cruéis para o abate e captura de animais também agrava os crimes ambientais e eu levo isso para a criação de gados e afins)
Ao longo de 10.000 anos de convivência o homem vem sempre sendo dono de cachorros e outros animais (recuso-me a usar a palavra “pet” pois trata-se de um anglicismo inapropriado pois existe a expressão “animal de estimação” em português).
Aí chegam os “millenials mimimi sabem-tudo” e, de 5 anos para cá, encasquetam que ninguém é proprietário de bicho nenhum e dizem que o certo agora é chamar de “tutor”!!???
É muita falta do que fazer!…..Por que vocês não vão primeiro consultar o Aurélio, o Houaiss antes de sair por aí propagando suas crenças politicamente corretas como se fossem a verdade universal?!!…..
Olá Roberto,
Entendo o seu ponto de vista. Hoje em dia realmente tudo está virando politicamente correto demais e, infelizmente, isso acaba afastando as pessoas de algumas discussões. Mas você não precisa mudar o seu jeito de falar… “Animal de estimação” e “Proprietário de um animal” são termos que continuam sendo usados. Eu mesma tenho mais costume de falar que sou dona de um cachorro do que tutora de um cachorro.
Pra mim, o que realmente importa são nossas atitudes. Foi isto que quis dizer quando escrevi:
“(…) e agora fica a questão: “como eu devo me chamar?” Para isso eu já tenho uma resposta na ponta da língua: “não me preocupo com palavras, mas sim com atitudes!”. No fim do dia, o que realmente importa é como você age com o seu cachorro; como você o vê e como o seu cachorro lhe vê. Seu cachorro não vai conseguir diferenciar quando você fala dono ou tutor… ”
É isto que realmente importa. E também esclarecer mais sobre a questão dos maus-tratos aos animais… porque quando a gente tem/convive/cuida um animal de estimação, nós nos apegamos tanto a eles, que nos machuca ver uma cena em que eles estão sofrendo desnecessariamente.
Pra além de qualquer militância, queria poder explicar o porque de ter aparecido este termo. Pois isto era algo que não entendia… há tanto tempo falava de uma forma e agora está todo mundo mudando?… E este post foi pra isto: pra esclarecer as pessoas que, assim como eu, não estavam entendendo o porque disto ter mudado agora…
Gostei muito mesmo deste artigo. Procurando sobre esclarecimento da palavra “tutor” descobri este artigo.
O que me levou a pesquisar foi ter levado o meu cachorrinho ao veterinário e na receita o nome do cachorrinho e abaixo, proprietário o meu nome.
Isto numa receita do dia 10/02/2022, fui a outro veterinário no dia 19/02/2022. O mesmo modo de escrever. O primeiro formado a mais tempo. A outra que era uma veterinária formada mais recente com o mesmo modo de escrever “proprietário” as universidades e faculdades de veterinária e que não estão sabendo orientar os seus alunos. O Ministério da Educação deveria ser mais proativo. No que depender de mim, sempre que puder estarei esclarecendo que os animais não são coisas, neles correm sangue. Muito obrigada pelos
esclarecimentos.
Olá Ivone,
Fico feliz que você tenha gostado do texto. Sobre isto das receitas; acredito que é algo que irá mudar aos poucos. No meu caso, descobri que se usava a palavra tutor, justamente quando levei minha cadelinha no veterinário e vi este termo na caderneta de vacinação.
Mas o mais importante é isto: esclarecer que os animais de estimação não são coisas e, a partir do momento que decidimos cuidar de um pet, devemos fazer isto da melhor forma possível. Retribuindo pra eles todo o amor que eles nos dão de forma incondicional.
Olá. Nada justifica maus tratos a animais. Ocorre que tutela ou curativa somente pode haver com seres humanos. Portanto, por mais que a intensão seja boa, não passa de uma invenção sem qualquer implicação jurídica. O humano é sim proprietário do ser irracional, e o cão se equivale ao semovente até perante a nossa legislação. Espero que tenha esclarecido. Abraço a todos.
Olá Solon,
Obrigada pelo seu comentário! Realmente não tenho muito conhecimento sobre questões jurídicas e o que você falou me fez prestar atenção para outras questões… Vou pesquisar mais sobre este pormenor e atualizar este post.
Mas, independente do termo utilizado, nós seremos os responsáveis quando decidimos ter um cachorro; e devemos exercer essa responsabilidade com muita atenção e cuidado para fazermos o que for melhor para o animal, dentro das nossas possibilidades.
Definição do dicionário sobre a palavra dono > Aquele que, por ser responsável pelas contas e despesas, tem poder e exerce controle sobre.
Portanto, eu sou dono da minha meliante de 4 patas. Não é uma palavra que vai mudar a mentalidade de quem maltrata os animais, somente a punição severa pode gerar o medo necessário para fazer as pessoas pararem com isso.
As pessoas atualmente acham que a mudança de termos vai mudar o mundo, o que é uma piada contemporânea. Vivemos na era do “vocabulário politicamente correto” e ele não mudou absolutamente nada, a geração que já nasce ofendida.
Olá Walberht,
Concordo com o que você disse quanto à punição. Mas não acho que seja apenas a severidade da punição que resolva o problema; antes disto, a punição (independente do nível de intensidade desta) deve realmente acontecer. Ao meu ver, não adianta nada existir uma punição muito severa, mas que nunca é aplicada efetivamente. Pelo o que estudei, há punições nos casos de maus tratos de animais, mas será que elas realmente são aplicadas ou sempre é possível dar o jeitinho?
E sim… estamos realmente vivendo no mundo do “vocabulário politicamente correto”… as pessoas estão mais preocupadas em falar bonito do que em agir corretamente mesmo quando não tem ninguém olhando.